João Fernandes

Um outro eclipse: agora foi a vez da Lua!

  A ocorrência de fenómenos astronómicos é sempre uma ocasião para reunir os interessados e curiosos na Astronomia. Foi assim (muito recentemente) com eclipse total do Sol, em Agosto de 1999, ou com a "chuva de estrelas" em Novembro. Em 21 de Janeiro do corrente ano um eclipse total da Lua voltou de novo a despertar curiosidades e a motivar concentrações de público em muitos lugares do Globo. O Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra aproveitou esta oportunidade para organizar mais uma iniciativa dirigida ao público em geral e, disponibilizando dois telescópios portáteis, permitir assim a observação do fenómeno.

Os eclipses da Lua

O movimento da Lua em torno da Terra define um plano que faz 5o com o plano de translação da Terra em torno do Sol – a eclíptica. A intercepção destes dois planos define a linha dos Nodos. Nesta linha destacam-se dois pontos: Nodo Ascendente – intercepção da órbita da Lua com a eclíptica quando a Lua executa o seu movimento de Sul para Norte – e o Nodo Descendente - intercepção da órbita da Lua com a eclíptica quando a Lua executa o seu movimento de Norte para Sul.

Sempre que Lua se encontra num destes pontos e o sistema Sol – Terra - Lua se encontra alinhado, estão reunidas as condição para a ocorrência de eclipses, solares de a Lua estiver em fase de Lua Nova e lunares se a Lua estiver na fase de Lua Cheia.

Concentremo-nos no caso dos eclipses da Lua. Estes ocorrem porque a Lua atravessa o cone de sombra da Terra. Neste cone de sombra, podem distinguir-se duas regiões, a Umbra e a Penumbra. Se Lua, no seu movimento, entrar completamente na zona da Umbra, então tem-se um eclipse total da Lua. Nos outros casos o eclipse é parcial, denominando-se de eclipse Penumbral no caso particular da Lua entrar completamente na Penumbra sem atingir a Umbra.

A noite de 21 de Janeiro

As portas do Observatório foram abertas pelas 23 horas do dia 20. As condições atmosféricas para a observação astronómica eram excelentes. Aí iniciou-se a noite astronómica com a observação de Júpiter e das suas quatro maiores luas (Ganímedes, Calisto, Io e Europa) e a observação de Saturno e seus anéis.

Anéis de Saturno

No que ao eclipse da Lua diz respeito, houve que esperar até perto das 2h00 da madrugada do dia 21 para começar a observação. Em Coimbra o início do eclipse, a saber o primeiro contacto da Lua com a Penumbra, deu-se às 2h03m.

Foi depois possível assistir-se à evolução do eclipse: a entrada na Umbra (pelas 4h05m) e o meio do eclipse (às 4h44m). Aí pôde constatar-se o efeito de avermelhamento da Lua, provocada pela refracção, na atmosfera terrestre, dos raios luminosos do Sol. Este efeito de avermelhamento tem paralelo com o que se pode observar no nascimento e/ou ocaso do Sol e da Lua.

De salientar que alguns dos presentes trouxeram os seus próprios telescópios o que elevou o número de instrumentos disponíveis para meia dúzia. Este facto enriqueceu muito a noite de observação uma vez que as várias dezenas de pessoas que acorreram ao Observatório (com particular destaque para os estudantes da Universidade de Coimbra) puderam fazer as suas observações utilizando diferentes tipos de telescópios e contactar vários astrónomos

Dois aspectos da noite astronómica de 21 de Janeiro de 2000

Passavam já largos minutos das 5 da manhã quando se deu por concluída uma noite de observação que durou mais de 6 horas, e que resultou numa nova oportunidade de convívio entre os "apaixonados" pelos fenómenos celestes.

Diferentes etapas do eclipse mostradas no Diário de Coimbra (22-Jan-2000)

O eclipse, esse, lá continuou até às 7h24m, momento em que ocorreu do último contacto da Lua com a Penumbra.

João Fernandes
Astrónomo do OAUC
Professor do Departamento de Matemática
E-mail:
jmfernan@mat.uc.pt