Adriana Garcia

Observações Solares:
A migração da actividade solar

 
 

 

A fonte de energia para a actividade solar parece ser uma combinação da energia da rotação do Sol e da energia nuclear que se forma no seu centro e que fornece energia para os movimentos de convecção. Se o Sol não rodasse ou se não apresentasse uma zona de convecção provavelmente não haveria manchas nem um ciclo de actividade

Em 1843 Schwabe anunciou a existência de um ciclo solar relativamente ao número de manchas solares com um período de cerca de 10 anos, tendo Wolf em 1852 deduzido um período mais preciso de 11.1 anos. Desde G. Hale, 1914, que se sabe que há uma alternância nas polaridades magnéticas das manchas dizendo-se por isso hoje que o ciclo solar é de 22 anos.

Onde começa a actividade solar?

Segundo Horace Babcock, 1961, bem no interior do Sol, os campos magnéticos não são suficientemente fortes para resistir aos movimentos dos gases sendo distorcidos por estes movimentos. Um dos movimentos é a rotação diferencial do Sol que distorcirá as linhas de campo inicialmente com a direcção Norte- Sul, chamado campo magnético poloidal (as linhas de força encontram-se em planos meridionais, isto é, planos que contêm o eixo solar) inclinando as linhas de força numa direcção horizontal passando a haver um campo magnético toroidal (as linhas de força são círculos em torno do eixo solar).

As linhas de campo podem enrolar-se várias vezes em torno do Sol, no seu interior, e podem torcer umas sobre as outras tornando-se estruturas entrançadas como cordas magnéticas. Com o contínuo alongamento destas cordas , as cordas tornam-se mais finas e ficam muito juntas o que significa que a força do campo magnético aumenta .Pode-se tornar tão grande que pode afectar a pressão dos gases dentro das cordas e estas começam a expulsar os gases solares do seu interior. Estas cordas de campo magnético parcialmente vazias já não são tão pesadas como o meio que está à sua volta, mais denso e não magnetizado, e por isso flutuam até à superfície , irrompem a superfície criando regiões activas bipolares e pares de manchas solares.

Este modelo de Babcock explica as leis de polaridade de Hale ( as manchas principais mais perto do bordo oeste e mais perto do bordo este de uma região activa têm polaridades opostas, todos os grupos de manchas formados no mesmo hemisfério têm o mesmo modelo de polaridade e que o modelo de polaridade deve ser contrário nos dois hemisférios Norte e Sul). Além disso o modelo da rotação diferencial do Sol indica que a deformação e o alongamento das linhas de força do campo magnético é maior a latitudes mais altas por isso as cordas magnéticas devem tornar-se mais leves e subir para formar manchas a essas latitudes altas o que explica bastante bem a lei de Sporer ( as primeiras manchas no novo ciclo aparecem a latitudes à volta dos 30 graus a norte e a sul do equador, no período máximo de manchas aparecem a cerca de 15 graus a norte e a sul, e á medida que vão diminuindo elas ocorrem a latitudes entre 5 a 10 graus) e o diagrama de borboleta ( a forma que apresenta a posição das manchas durante vários ciclos solares).

Durante a migração ocorrem transformações no interior do Sol, na coroa solar, no campo magnético.O campo magnético que no princípio e no fim da migração será praticamente poloidal, parece ser toroidal perto do meio da migração, altura em que já terá ocorrido o nascimento de uma nova migração, havendo por isso uma actividade máxima em todo o Sol. Ao mesmo tempo a convecção, que segundo Elizabeth Ribes, consiste em rolos convectivos, parece evoluir de rolos meridionais, no periodo de mínima actividade para rolos toroidais perto do periodo de máxima actividade.

Sabe-se então que a actividade solar aparece primeiro a latitudes muito altas. Progressivamente as zonas activas migram em direcção ao equador e vão mudando de características.Só quando a zona activa atinge uma latitude de cerca de 45 graus é que aparecem as manchas e deixam de aparecer na coroa outras manifestações da actividade.Esta migração do polo até ao equador dura 20 a 24 anos. Uma migração começa cerca de 11 anos depois da anterior migração ter começado . Segundo Jean Claude Pecker todo este problema da migração é complicado e haverá necessidade de uma teoria magnetohidrodinâmica mais elaborada do que aquela que existe para se compreender melhor o fenómeno da migração. Mas pode-se dizer que o ciclo da actividade solar, as migrações solares, nos mostram claramente que há uma ligação entre a actividade solar,o campo magnético solar e a estrutura da zona convectiva.

  K3, 15-Out-1989. Em 1989 o Sol apresentava uma actividade máxima com protuberâncias e filamentos perto dos pólos, regiões faculares e manchas solares distribuidas pelo disco solar como está bem patente neste espectroheliograma.
  K3, 27-Set-1995. Em 1995 a actividade solar é bastante reduzida podendo-se observar pequenas regiões faculares perto ou na zona equatorial. A latitudes bastante mais altas observa-se por vezes o aparecimento de uma pequena actividade.
  H-alfa, 19-Dez-1995. A actividade solar pode atingir valores mínimos como é bem visível neste espectroheliograma do final do ano de 1995 em que se observa pequenos filamentos a latitudes altas.
  K3, Dez, 1996. Observamos a primeira região facular do ciclo 23, com alguma dimensão, no Hemisfério Sul, a uma latitude elevada.
  K1, Dez, 1996. Podemos observar na região facular referida anteriormente o primeiro grupo de manchas deste ciclo designado por NOAA 8003. Como podemos verificar este grupo bipolar surge a uma latitude de 30 graus, o que está de acordo com o que foi referido anteriormente sobre a migração da actividade solar. Já em Maio desse mesmo ano, 1996, apareceram duas pequenas manchas designadas por NOAA7963 e NOAA7964 a uma latitude de 25 graus Norte e 30 graus Sul respectivamente mas com uma área bastante reduzida.
  K1, 30-Dez-1997. Podemos observar três grupos de manchas nas latitudes 30 graus. É de notar que as duas manchas pertencentes à região activa a SE têm uma orientação bastante diferente das duas manchas da região activa a SW.
  K3, 14-Jun-1998. Observamos uma maior actividade em todas as latitudes do Sol excepto na zona equatorial.
  K3, 13-Jul-1999. Em 1999 actividade solar já mais perto do equador e é de salientar neste espectroheliograma uma grande protuberância na zona polar sul.
  K3, 3-Nov-2000. Em 2000 e neste espectroheliograma podemos verificar que se observa actividade já na zona equatorial.
  K1, 3-Nov-2000. Apesar das manchas ainda serem em grande número o seu aparecimento já ocorre a latitudes mais baixas podendo mesmo observar-se manchas com 2 graus, 3 graus e 6 graus latitude Norte.

Adriana Garcia
Assessora de Observações Astronómicas
Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra
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astronomico@gemini.ci.uc.pt