Um Acidente de Trânsito

 
 
 
 

Helios

No dia 24 de Fevereiro de 2000, Eusébio Leão conduzia, pela estrada de Coimbra à Figueira da Foz, um precioso e raro Rolls Royce pertencente ao conhecido milionário inglês Sir Joseph Banks. Pelas 17 horas e 30 minutos, ao quilómetro 23,6, entre Tentúgal e Meãs, o automóvel saiu da estrada e colidiu com um bulldozer o que lhe provocou estragos incalculáveis e definitivos. Inesperadamente, a Astronomia foi chamada a deslindar o caso.

De facto, apesar de somente haver danos materiais, a companhia que emprega Eusébio Leão quis despedi-lo por condução negligente, ao que este contrapôs que se encadeara com o Sol poente e que desta perturbação resultara o acidente, tanto mais que a estrada é movimentada. A companhia quis averiguar a veracidade desta justificação e, para o efeito, recorreu à peritagem de um conhecido observatório astronómico. Segue-se o relatório.

Vista geral da recta entre Tentúgal e Meãs, de Oeste para Leste. O acidente ocorreu no extremo do troço mostrado.

Orientação do troço de estrada

O acidente deu-se ao quilómetro 23,6, num troço recto da estrada nacional n.º 111 situado entre os quilómetros 22,8 e 23,9. Para se determinar o rumo (ver adiante) seguido pelo automóvel no instante do acidente, mediram-se as coordenadas geográficas dos marcos hectométricos situados nos extremos do troço referido:

Os resultados das medições são os seguintes:

pontos

posição na estrada

latitude

longitude

Ponto A

km 23,9

40º 12',96 N

8º 36',20 W

Ponto B

km 22,8

40º 12',70 N

8º 36',90 W

Data: 15-Fev-2001, às 15h 30m. Receptor GPS Magellan 310

O próprio instrumento indica o rumo seguido: 251º

O rumo é o ângulo formado pelo Norte com o sentido da marcha, medido no sentido N-E-S-W

Cálculo da orientação do Sol

Para o dia e hora indicados, as efemérides indicam a posição do Sol em coordenadas topocêntricas respeitantes ao local do acidente, o que se encontra resumido na tabela seguinte.

posição

dia

hora

Azimute
N-E-S-W

Altura

Ponto A

24-Fev-2000

17h 30m

250º 1' 23''

8º 15' 0''

Cálculo com o software MICA15 do Observatório Naval de Washington

Conclusão

Os cálculos resumidos na tabela anterior mostram que à hora do acidente:

  1. O rumo do automóvel era praticamente igual ao azimute do Sol, logo este estava diante do condutor.
  2. O Sol estava baixo, apenas à altura de 8º.

Assim, é perfeitamente possível que o condutor tenha ficado encadeado pelo Sol e que o encadeamento tenha sido a origem do acidente. Recomenda-se uma consulta ao Instituto Geofísico para determinar qual o estado do tempo atmosférico na ocasião.


A. S. Alves
Director do OAUC
E-mail:
asalves@mat.uc.pt

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