004-Os "velhos" programas

A necessidade da existência de novos programas tornou-se clara depois do avolumar dos problemas com o Ensino da Matemática em todos os ciclos.
José Sebastião e Silva criticou duramente os programas dos anos 60/70:
O que é preciso é não confundir cultura com erudição e sobretudo com o enciclopedismo desconexo, imensa manta de retalhos mal cerzidos, que vão desde as guerras púnicas até ao sistema nervoso da mosca. É esse, a bem dizer, o tipo de cultura que tende a produzir o ensino tradicional, baseado num sistema de exames que só permite apreciar memorizações e automatismos superficiais, mais ou menos próximos do psitacismo. (Guia para a utilização do compêndio de Matemática)
Chegou-se a fazer crescer os rapazes numa planície matemática esterilizada e esterilizadora, capaz de sufocar qualquer objecção, qualquer diálogo. Porque se quisermos que o ensino da matemática seja autenticamente vivo e fecundo, deveremos apresentar uma ciência que se faz e não uma ciência já feita. A matemática não deve desprezar o concreto, a matemática deve estar ligada à realidade física em que o pensamento matemático mergulha as suas raízes. E é sobretudo a geometria que serve de modo natural para a ligação entre o mundo físico e a abstracção (carta a Emma Castelnuovo, cit. em Ens. da Mat. Anos 80, SPM, Lisboa, 1982).
É preciso combater o excesso de exercícios que, como um cancro, acaba por destruir o que pode haver de nobre e vital no ensino. É preciso evitar certos exercícios artificiosos ou complicados, especialmente em assuntos simples.(...) É mais importante reflectir sobre o mesmo exercício que tenha interesse, do que resolver vários exercícios diferentes, que não tenham interesse nenhum.(...) Entre os exercícios que podem ter mais interesse figuram aqueles que se aplicam a situações reais, concretas. ("Guia para a utilização do compêndio de Matemática")
O ensino tradicional ignorava o "porquê" e o "para quê" e limitava-se a apontar o "como". Os alunos não entendiam, desinteressavam-se e esqueciam tudo na primeira oportunidade.
Infelizmente os programas que se seguiram não resolveram nenhum destes problemas. O Prof. António St. Aubyn afirmava:

Utiliza-se pouco a intuição na introdução de conceitos, não se apela para a experiência dos estudantes por meio de problemas simples, do que resulta uma falta de motivação e um espaço limitado à iniciativa individual.
A maior parte dos alunos desconhece o significado de um teorema (...) Desconhecimento das principais técnicas de demonstração (redução ao absurdo, indução, etc).
(...) programas (...) abstractos, formalistas, desligados da realidade, não motivando os jovens, (...) prática de ensino rotineira não desenvolve nos alunos capacidades de cálculo e de resolução de problemas, gosto pela descoberta e prova de novos resultados. ("Ens. da Mat. Anos 80, SPM, Lisboa, 1982")
Actualmente, os alunos que terminam o Ensino Secundário com os programas clássicos, chegam à Prova Específica e apenas obtêm médias à roda de 20%, sendo impressionante a quantidade de notas inferiores a 10%. Como dizia um dos pareceres recebidos, não é admissível que um número considerável de alunos chegue à Universidade revelando lacunas como as que transparecem nos seguintes exemplos:

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Mas a verdade é que chegam e com um programa que insistia sobretudo no cálculo e em "memorizações e automatismos superficiais" mas nem sequer desenvolvia as capacidades de cálculo (como também se demonstra olhando para os resultados das provas de aferição que em pouco diferem dos das provas específicas), quanto mais a capacidade de resolver problemas matemáticos. Os alunos que concluírem o ensino secundário até ao ano de 1994/95 inclusive terão sido formados na sua esmagadora maioria com os denominados "programas antigos".
Além do mais, muitos outros tópicos importantes não constavam dos programas. Tópicos como Análise Combinatória, Probabilidades e Estatística apesar de fazerem parte do programa oficial eram completamente ignorados. A Matemática Finita encontrava-se totalmente ausente. Todos os métodos numéricos eram ignorados.
Era necessário mudar urgentemente tanto conteúdos como metodologias.

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