006-Um programa para o ano 2000

Os alunos que terminarem o Ensino Secundário no ano 2000 utilizarão, em princípio, o actual ajustamento de programas. É uma antecedência imensa esta em que teremos de prever que formação matemática irão esses alunos necessitar na sua vida escolar e profissional posterior.
Que orientação seguir?
José Sebastião e Silva já afirmava que "A modernização do ensino da Matemática terá de ser feita não só quanto a programas, mas também quanto a métodos de ensino" (Guia para a utilização do compêndio de Matemática, 1(o) vol.). E concretizava:
O professor deve abandonar, tanto quanto possível, o método expositivo tradicional, em que o papel dos alunos é quase cem por cento passivo, e procurar, pelo contrário, seguir o método activo, estabelecendo diálogo com os alunos e estimulando a imaginação destes, de modo a conduzi-los, sempre que possível, à redescoberta. (Guia para a utilização do Compêndio de Matemática, 1(o) vol.)
Ensinar matemática sem mostrar a origem e a finalidade dos conceitos é como falar de cores a um daltónico: é construir no vazio. Especulações matemáticas que, pelo menos de início, não estejam solidamente ancoradas em intuições, resultam inoperantes, não falam ao espírito, não o iluminam.(Guia para a utilização do compêndio de Matemática)
A meu ver são principalmente o sentido crítico e a autonomia mental as qualidades que um professor de matemática se deve esforçar por desenvolver nos seus alunos. (Texto sobre Bento de Jesus Caraça, DL, 25/6/1968)
Um dos objectivos fundamentais da educação é, sem dúvida, criar no aluno hábitos e automatismos úteis, como, por exemplo, os automatismos de leitura, de escrita e de cálculo. Mas trata-se aí, manifestamente, de meios, não de fins. ("Guia para a utilização do compêndio de Matemática", 2(o)/3(o) vol., pg. 10-11)
Os alunos não precisam, em geral, de ser investigadores, mas precisam de ter espírito de investigação. Intuição, experiência, lógica indutiva, lógica dedutiva - todos estes meios se alternam constantemente na investigação científica, numa cadeia sem fim em que é difícil destrinçar uns dos outros.("Guia para a utilização do compêndio de Matemática", 2(o)/3(o) vol., pg. 107-111)
O professor não deve forçar a conclusão: deve deixá-la formar-se espontaneamente no espírito do aluno. ("Guia para a utilização do compêndio de Matemática", 1(o) vol., pg. 70)
Se não houver tempo - o que é bem provável - podem-se omitir as demonstrações. O que importa, por enquanto, são as intuições: essas de modo nenhum devem faltar, (...) ("Guia para a utilização do compêndio de Matemática", 2(o)/3(o) vol., pg 81)

Assiste-se a uma convergência de opiniões favoráveis aos novos programas, globalmente considerados. Se quase todos entendem que se deve manter a abordagem metodológica proposta no texto dos programas em vigor, já a concretização destes princípios tem criado mais problemas. Efectivamente tal é um aspecto de muito difícil concretização e que por isso deve merecer toda a nossa atenção.

Na Orientação Metodológica dos novos programas do Ensino Secundário é afirmado que
"Tendo como pressuposto ser o aluno agente da sua própria aprendizagem, propõe-se uma metodologia em que:
. os conceitos são construídos a partir da experiência de cada um e de situações concretas;
. os conceitos são abordados segundo diferentes pontos de vista e progressivos níveis de rigor e formalização;
. se estabelece maior ligação da Matemática com a vida real, com a tecnologia e com as questões abordadas noutras disciplinas e que enquadra o conhecimento numa perspectiva histórico-cultural."(pg. 32)
E mais adiante:
"A utilização obrigatória da calculadora que, além de ferramenta, é fonte de actividade, de investigação e de aprendizagem, (...) A resolução de problemas, meio privilegiado para desenvolver o espírito de pesquisa, deve contemplar, além de situações do domínio da Matemática, outras, da Física, da Economia, da Geografia,... (...) o aluno será solicitado frequentemente a justificar processos de resolução, a encadear raciocínios, a confirmar conjecturas, a demonstrar fórmulas e alguns teoremas."(pg. 32)

Mas o problema principal tem sido: como passar das boas intenções à prática? Como dizia uma pessoa no seu parecer: "Quem dera que essa alteração seja feita de modo que os professores passem a ensinar matemática, e não técnicas de cálculo, e que os alunos passem a gostar de aprender matemática e possam sentir nessa aprendizagem alguma utilidade significativa e não apenas um obstáculo que têm de vencer para fazer o 12(o) ano e entrar no ensino superior".

A opinião generalizada é que a maioria dos princípios enunciados nas Orientações Metodológicas não se reflectia no programa propriamente dito. É por essa razão que mereceu a atenção especial por parte da Equipa Técnica a clareza dos objectivos enunciados e sua relação com as novas metodologias propostas. Tivemos como objectivo plasmar as Orientações Metodológicas na listagem dos temas do programa propriamente dito.

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