Actividades da Comissão Pedagógica;

A formação de Comissões, quer Temporárias, quer Permanentes, era indispensável para se alcançarem os objectivos essenciais da S.P.M. : cultivar e promover o estudo das Ciências Matemáticas, Puras e Aplicadas, realizando, para isso, reuniões de estudo, conferências, cursos livres, publicando um Boletim e outros estudos matemáticos, promovendo a participação em Colóquios e Congressos, colaborando em publicações, quer nacionais, quer estrangeiras, etc..

Numa das primeiras reuniões da Direcção, foi deliberado dirigir uma circular aos associados, pedindo o envio de comunicações científicas para leitura em posteriores reuniões da Sociedade. Previa-se também, nessa circular, a organização de séries de conferências (Gaz. Mat., n(o) 6 (Abril de 1941), p. 16).

A primeira reunião de estudo realizou-se em 26 de Junho de 1941. De acordo com uma pequena nota publicada por Bento Caraça na Gazeta de Matemática (n(o) 8 (1941), p. 10), a Assembleia da Sociedade discutiu e aprovou por unanimidade o plano de trabalhos da sua Comissão Pedagógica.

Nesse plano apontava-se como primeira condição para recriar um movimento matemático forte em Portugal, conseguir-se a existência de um bom ensino secundário da disciplina de Matemática e, consequentemente, tornava-se urgente proceder à análise das condições em que esse ensino se processava. Ora, no entender da Comissão Pedagógica,

" a) os programas são mal equilibrados, com grandes deficiências e alguns excessos;

b) o tempo lectivo da disciplina de Matemática é ridiculamente exíguo;

c) as condições de selecção são defeituosas, por má organização dos pontos e pelas normas de classificação;

d) acresce que os pontos, dada a sua textura habitual, vão influir sobre a qualidade do ensino, com manifesto prejuízo deste."

A Comissão Pedagógica chamava a atenção para outros aspectos da questão, que deviam ser estudados, conjuntamente, tais como:

" a) a preparação cultural e pedagógica dos professores de Matemática do ensino secundário;

b) a possível introdução de métodos novos de ensino, tais como os métodos laboratoriais para os rudimentos de geometria;

c) a possível utilização do cinema no ensino da Matemática;

d) a difusão do gosto pelo estudo da Matemática por meios extra-escolares, tais como a criação de clubes de Matemática, etc.."

E a Comissão Pedagógica apelava para a colaboração de todos a fim de se proceder ao estudo cuidadoso de cada uma destas questões.

A Assembleia da Sociedade, depois de tomar conhecimento do plano da Comissão Pedagógica e de o discutir, aprovou-o e resolveu que se pedisse imediatamente ao Ministério da Educação que, sem prejuízo dos resultados a que ulteriormente se chegasse no estudo dos problemas levantados,

" restabeleça desde já o antigo nível dos estudos matemáticos dos liceus, com a necessária ampliação dos tempos lectivos."

Com efeito, por essa altura, no último ano dos liceus, o tempo lectivo oficialmente dedicado ao ensino da Matemática, chegou a ser reduzido a 2 horas por semana!

*

Nesse mesmo ano, na reunião realizada em 10 de Dezembro de 1941, a Assembleia da Sociedade Portuguesa de Matemática, após tomar conhecimento da proposta que a Comissão Pedagógica lhe apresentou, como resultado do estudo que tinha feito dos pontos de exame liceais de Matemática, relativos ao ano de 1940-1941, não só apoiou as conclusões da Comissão Pedegógica, como resolveu protestar energicamente contra a forma como tais pontos de exame foram elaborados: imprecisão da linguagem utilizada; figuras que acompanhavam as questões postas, mal feitas ou até erradas; os critérios impostos pelo Ministério para a correcção e classificação das provas, constantes do folheto intitulado Instruções aos reitores dos liceus sobre os exames liceais e de admissão aos liceus, continham a disposição anti-pedagógica de mandar reduzir a zero a cotação de uma resposta deficiente ou incompleta, sem qualquer contemplação pelo trabalho realizado, mesmo que tal trabalho mostrasse estar o examinando de posse de todos os elementos necessários para a resolução correcta.

A este respeito, a Assembleia tomou as resoluções seguintes:

"1(o)- Considerar como injustificado e condenável, tanto do ponto de vista científico, como do ponto de vista pedagógico, o actual regime para os exames de liceu na disciplina de Matemática, já pela sua deficiência como meio de investigação dos conhecimentos dos examinandos, já pelo perigo, ainda maior, que representa pela deformação que provoca na orientação do ensino.

2(o)- Comunicar esta resolução às entidades pedagógicas responsáveis.

3(o)- Empregar todos os meios ao seu alcance para que o mesmo regime seja substituído por outro que melhor possa servir os interesses do ensino.

O Ministério da Educação viu-se obrigado a tomar conhecimento das críticas feitas pela S.P.M. e, assim, os jornais de 21 de Fevereiro de 1942 publicavam uma nota intitulada As instruções dadas à comissão organizadora dos pontos, que dizia o seguinte:

"Pelo sr. Ministro da Educação Nacional foram dadas as seguintes instruções à Comissão Organizadora dos pontos para exames liceais:

I: O ponto modelo traduz uma orientação geral a seguir pela Comissão, não um paradigma que seja forçoso adoptar. Pode, portanto, deixar de seguir-se quanto: 1) às cotações a atribuir a certa questão; e 2) ao número de questões a propor, à sua ordenação e ao processo da sua formulação.

II: Pode a Comissão organizar os pontos com extensão menor do que a prevista no ponto modelo: pode e a experiência mostra que em alguns casos deve".

A Gazeta de Matemática transcreveu, sem comentários, esta nota do Ministério, na secção de Pedagogia, do seu número 10 (1942), p. 25.

*

Na Assembleia Geral da S.P.M. realizada em 10 de Julho de 1942, no seguimento de uma proposta apresentada por Bento Caraça em nome da Comissão Pedagógica, foi resolvido que a Sociedade Portuguesa de Matemática promovesse a publicação de uma Biblioteca de Matemática, com o objectivo de se dispor de obras de apoio aos estudantes universitários e de obras de um nível algo mais elevado, destinadas aos licenciados interessados em adquirir uma cultura matemática complementar ou aos que, por força da sua profissão, tal como os professores do ensino secundário, necessitam de mais ampla informação especializada.

Foi resolvido ainda representar junto à Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências, pedindo a concessão de um subsídio financeiro substancial para se dar andamento à criação da Biblioteca de Matemática (Gaz. Mat., n(o) 12 (1942), p. 18).


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