Sociedades Matemáticas nos países mais evoluídos

Na Histoire Générale des Sciences, dirigida por René Taton ([67], p. 8) aponta-se como factor decisivo para explicar o "magnifico desenvolvimento dos diferentes ramos das matemáticas no século XIX", o surto rápido das actividades de investigação nos países mais evoluídos,

"sob o efeito da democratização crescente do ensino superior e da profissionalização da actividade de matemático."

e acrescenta-se:

"Esta evolução é ela própria comandada por certos factores políticos, sociais e económicos. A reforma do ensino superior científico e técnico realizada em França pela Revolução concede, com efeito, às matemáticas um lugar muito mais importante do que o que tinham anteriormente nos programas e confia as principais cadeiras aos sábios mais eminentes, dotando estes de uma importante função social e libertando-os das preocupações materiais mais imediatas. Além disso, pondo o ensino em contacto directo com a investigação e abrindo-o a classes mais amplas da Sociedade, favorece-se o aparecimento de um número muito maior de vocações."

O aumento do número de trabalhos de investigação

"é facilitado pela criação de um número crescente de revistas especializadas, pelo aparecimento dos primeiros boletins bibliográficos e pela fundação de sociedades matemáticas regionais ou nacionais: Sociedade Matemática de Londres (1865), Sociedade Matemática de França (1872), Sociedade Matemática de Edimburgo (1883), Círculo Matemático de Palermo (1884), Sociedade Matemática Americana (1888), Associação Matemática Alemã (1890), etc."

Todas estas Sociedades fundam as suas próprias revistas especializadas, boletins informativos, promovem reuniões, colóquios e congressos, etc., servem-se dos meios mais variados para promover o convívio entre os matemáticos dos seus próprios países ou regiões e o convívio entre estes e os dos outros países ou regiões. Fazem o que lhes é possível para não deixar cair os respectivos membros no isolamento científico.

O nascimento da Sociedade Portuguesa de Matemática só foi possível em 1940. Esta diferença de mais de meio século, num período de actividade tão intensa, dá-nos uma ideia do que tem sido o nosso isolamento, principal causa do nosso atraso.

A efervescência da actividade matemática, de que falava António Monteiro, foi absolutamente necessária, mas, evidentemente, não foi, só por si, suficiente para vencermos o nosso atraso.

É que o nosso atraso vinha já de muito longe...


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