Junta de Investigação Matemática

O n(o) 17 da Gazeta de Matemática, de Novembro de 1943, continha um pequeno artigo de Zaluar Nunes, que causou grande sensação e apreensão entre os participantes do movimento matemático português de então.

O artigo intitulava-se A Partida do Doutor António Monteiro e dava conhecimento de que António Monteiro aceitara o convite que lhe havia sido feito pela Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro, para ir reger a cadeira de Análise Superior e dirigir um seminário de estudos matemáticos, prosseguindo na tarefa iniciada tempos antes por ilustres matemáticos italianos.

A escolha de António Monteiro havia sido, segundo informa o artigo de Zaluar Nunes, aconselhada por Alberto Einstein e John von Neumann. Em [27], Ruy Luís Gomes diz que também foi aconselhada por Guido Beck.

António Monteiro não pôde deixar de aceitar o convite, até porque os governantes portugueses de então nunca lhe proporcionaram uma situação estável, nem sequer lhe reconheceram o doutoramento feito em Paris sob a orientação de Maurice Fréchet.

Como o próprio Monteiro disse no seu Curriculum Vitae e Ruy Luís Gomes recorda ([27], p. 35),

"durante o período de 1938-43, todas as minhas funções docentes e de investigação, foram desempenhadas sem remuneração; ganhei a vida dando lições particulares e trabalhando num Serviço de Inventariação de Bibliografia Científica existente em Portugal, organizado pelo I.A.C.."

O artigo de Zaluar Nunes, depois de recordar

"o animador incansável de quase todas as iniciativas de trabalho no campo matemático, algumas das quais foi o único a concebê-las",

afirma:

"É também ao seu entusiasmo e persistência que se deve em grande parte a criação da Sociedade Portuguesa de Matemática, a publicação da nossa revista e tantos outros empreendimentos, o mais recente dos quais, e de grande importância, é, sem dúvida, o ser um dos fundadores da Junta de Investigação Matemática. Os bolseiros do Instituto para a Alta Cultura que, actualmente na Itália e na Suiça se aperfeiçoam no campo da investigação matemática, e que constituem a melhor propaganda portuguesa cultural no estrangeiro, permitem-nos afirmar - sabemo-lo, de certeza, sem consultas - que muito devem a António Monteiro, na orientação dos seus trabalhos de investigação e no entusiasmo sempre comunicado, impedindo desânimos e eliminando hesitações."

A Junta de Investigação Matemática, a que Zaluar alude no seu artigo, foi fundada por Aureliano de Mira Fernandes, António Aniceto Monteiro e Ruy Luís Gomes, em 4 de Outubro de 1943, e os seus objectivos, contidos na Acta de Fundação, eram os seguintes:

"1(o)- Promover o desenvolvimento da investigação matemática;

2(o)- Realizar trabalhos de investigação necessários à economia da nação e ao desenvolvimento das outros ciências;

3(o)- Sistematizar e coordenar a inquirição científica dos matemáticos portugueses;

4(o)- Vincular o movimento matemático português com o dos outros países e, em especial, com o dos países Ibero-americanos;

5(o)- Despertar na juventude estudiosa portuguesa o entusiasmo pela investigação matemática e a fé na sua capacidade criadora."

(Gaz. Mat., n(o) 17 (1943), p. 18).

Os n(o)s 18 (p. 14) e 19 (p. 29) da Gazeta de Matemática informam que deram a sua adesão à J.I.M., Rodrigo Sarmento de Beires, Bento Caraça, Nuno Fidelino de Figueiredo, Fernando Neves Ferrão, José da Silva Paulo, Zaluar Nunes, os bolseiros do I.A.C. em Zurique Armando Gibert, Augusto Sá da Costa e Hugo Ribeiro e os trabalhadores do Centro de Estudos Matemáticos do Porto, António Almeida Costa, Luís Neves Real, Alfredo Pereira Gomes, Laureano Barros, José Gaspar Teixeira, Maria Odete Botelho, Maria Helena Costa Ferreira, Bernardino Barros Machado e José Morgado.


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