Dotação da Junta de Investigação Matemática

A Gazeta de Matemática, n(o) 20 (1944) anunciava na sua primeira página que

"Um grupo de professores e antigos alunos da Faculdade de Ciências do Porto, convencidos de que seria impossível dar realização ao programa da Junta de Investigação Matemática sem lhe assegurar os meios materiais indispensáveis, criaram a "Dotação da Junta de Investigação Matemática". Certos de que a sua iniciativa era susceptível de despertar interesse em sectores muito mais largos, redigiram e fizeram distribuir a seguinte circular."

Seguia-se o texto da circular, onde depois de mencionar os objectivos da J.I.M. e as suas primeiras actividades, nomeadamente, a publicação "de uma série de cadernos de Análise Geral, em que se procura expor, numa forma acessível, as modernas correntes do pensamento matemático" e, em colaboração com o Centro de Estudos matemáticos do Porto, se anunciava a organização de colóquios de Algebra, de Topologia e de Teoria Geral da Medida, com a intenção de "despertar na juventude estudiosa portuguesa o entusiasmo pela investigação matemática e a fé na sua capacidade criadora."

E a circular, uma vez explicada a finalidade da criação da "Dotação da Junta de Investigação Matemática", terminava por convidar a

"associarem-se-nos todos aqueles que, tomando conhecimento dos seus objectivos e das suas realizações, sintam a necessidade de assegurar a sua continuidade e desenvolvimento."

Na resposta a este apelo, distinguiu-se o irmão de Ruy Luís Gomes, o Dr. António Luís Gomes, que conseguiu reunir uma soma de donativos superior a 50.000 escudos, o que, nessa altura, teve excepcional importância, pois, com isso, foi possível contratar António Monteiro que, em Dezembro de 1943, se deslocou, com sua família, para o Porto, onde residiu até à decisão de emigrar para o Rio de Janeiro. Embarcou para lá em 28 de Fevereiro de 1945, contratado por um período de 4 anos.

O seu contracto não foi renovado!

Conforme conta Leopoldo Nachbin ([41], p. XVI), em consequência da sua atitude abertamente anti-salazarista, a Embaixada de Portugal no Rio de Janeiro (então capital do Brasil) conseguiu convencer o Reitor da Universidade a não lhe renovar o contrato. Por este motivo, Monteiro mudou-se para a Argentina e acabou por se fixar em Bahia Blanca, após alguns anos na Escola de Engenharia de San Juan, da Universidade de Cuyo.

No artigo que Eduardo Z. Ortiz escreveu, em homenagem à memória de António Monteiro, para a Portugaliae Mathematica, pode ler-se ([55], p. XXXII):

"Monteiro foi, sem dúvida, um dos mais vigorosos intelectuais contemporâneos. Com Sarmiento, o fundador daquela Escola de Engenharia de San Juan que o trouxe para a Argentina, ele pertence a uma antiga tradição de pensamento Argentino progressivo e independente à qual o país deve algumas das suas mais válidas realizações. Ele representou-a primorosamente no nosso tempo."


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