NONIUS
nš16 ISSN 0870-7669 1990
Folha Informativa do Projecto "Computação no Ensino da Matemática"

Relatório de uma experiência de utilização dos computadores
nas aulas de matemática
Maria Paula Carvalho*

 

Uma das grandes dificuldades reveladas no Ensino Secundário é o estudo da Trigonometria.

Este artigo relata uma experiência com computadores na sala de aula levada a cabo pelo grupo de estágio - Ramo Educacional - da Escola Secundária Avelar Brotero no ano 1987/88, constituído por Isabel Alexandra V. Brás, M4 Helena C. Ribeiro, Ml Helena M. Monteiro, Natália M" 0. Rodrigues e pela autora deste texto.

Tinhamos um programa educativo que podiamos utilizar ao nível do 10º ano de escolaridade, na unidade Trigonometria. Tinhamos muita vontade e algumas ideias; faltavam-nos muitas outras coisas, mas... tomámos a iniciativa.

A experiência foi feita com 5 turmas, todas com características diferentes e que apresentavam muitas dificuldades. Decidimos abordar o tema trigonofnetria, com o auxilio do computador e o programa de que disponhamos Trigonometria. Alterámos a ordem pela qual é usualmente leccionada a matéria no 10º ano. Assim, começámos por Generalidades sobre fu ' nções e Funções reais de variável real; fizemos uma breve introdução ao estudo da Trigonometria no universo das amplitudes, apresentámos o Sistema Circular e depois, todo o estudo das funções trigonométricas foi feito considerando-as já como funções reais de variável real,

A ideia era nova para nós. A experiência que tinhamos neste campo era nula. Havia que organizar um método de trabalho de acordo com as condições materiais que disponhamos.

Elaborámos uma ficha de trabalho que consistia fundamentalmente na construção de quadros, em função dos nossos objectivos (ver anexo). Depois de completos e analizados, os alunos tiravam as conclusões que escreviam na própria ficha. Eram também fornecidos nessa ficha, as instruções para meter os dados no computador e, os alunos tiveram oportunidade de trabalhar directamente no teclado.

 

O decorrer da aula
Vimos os alunos "descobrirem" os intervalos onde a função seno é positiva, crescente ou decrescente, os pontos onde se anula, máximos e mínimos no intervalo ] 0,2[, (e o mesmo para as funções co-seno e tangente). Estabeleceram relações entre ângulos do IQ quadrante e ângulos de outros quadrantes, entre ângulos complementares, suplementares,etc.

 

Mais tarde e só nalgumas turmas, estudámos ainda a função y = a + b sen(cx) com a, b, c parametros reais, ainda com o mesmo programa, o que permitiu explorar a variação do período e do contradominio, em função de a, b e c.

 

Pensamos que a aplicação desta metodologia foi vantajosa, nalguns aspectos. Podemos apontar a colaboração e empenhamento dos alunos num trabalho que estava a ser diferente das aulas habituais de Matemática; o modo sólido como a matéria foi apreendida dado que tiravam as suas próprias conclusões (notei que algumas vezes, na resolução de exercícios os vi recordar e visualizar mentalmente as imagens que tinham visto no ecran do computador fazendo alusões nomeadamente à cor); o nosso próprio empenhamento, como professores, num trabalho que também para nós era diferente, mais amplo, mais exigente.

 

Mas não tenhamos ílusões. Não podemos dizer que a experiência foi óptima. Para isso contribuíram alguns factores, entre os quais podemos apontar. as turmas eram constituídas por um número excessivo de alunos (entre 25 e 32 alunos) para os dois computadores de que disponhamos. Realmente, 16 alunos por computador, em três das cinco tu rmas! Dificultou, sem dúvida a realização de um trabalho individual e temos consciência que por essa razão alguns alunos (poucos, mas alguns) se perderam na sombra.Outro problema com que deparámos foi o ritmo acelerado que fomos obrigadas a incutir ao trabalho. não tinhamos uma sala para os computadores. Estes eram levados para as salas de aula e retirados no fim, o que roubava algum tempo aos 50 minutos de aula. Pensamos que os resultados podem ser francamente melhorados reduzindo o número de alunos por computador e, porque não'?1 elaborando uma versão melhorada da ficha de utilização ou até mesmo do programa.

 

Reconhecemos que o trabalho foi válido tanto assim que voltámos a utilizar o computador na aula, agora no 8ºano, ainda em estágio. Construimos um pequeno programa - Parábola - para repesentar graficamente a função y = k x2 (keR). O trabalho foi realizado nos mesmos moldes, com uma ficha de utiliza ão. A ui odemos acrescentar ue os alunos vibraram só pelo facto de terem o computador na aula de Matemática. Esperavamos continuar este tipo de trabalho. Achamos que o computador tem vantagens relativamente ao retroprojector (para não falar em -giz) preferíamos fazer aulas de orientação de trabalhos dos alunos, embora o esforço exigido seja muito maior: Os resultados são gratificantes! Temos uma realidade dura para os professores de Matemática nas nossas escolas: os alunos não gostam de Matemática. Seria um modo de os fazer "acordar" para a Matemática?

 

* Prof. Profissionalizada da Esc. Sec, da Mealhada
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