NONIUS
nº 28 (múltiplo) ISSN 0870-7669 Março-Outubro 1991
Folha Informativa do Projecto "Computação no Ensino da Matemática"

A minha aventura com o f(x)
Carlos Antunes

       Computadores - Desde há alguns pares de anos que somos 'invadidos' constantemente e cada vez em maior número por estas máquinas. No entanto, apesar de eu ter utilizado a palavra 'invadidos' sou um apologista convicto deste movimento pró-máquina. Para clarificar um pouco mais a minha posição eu gostaria de referir que todos aqueles que se colocam contra a informática ou nunca lidaram com esta tecnologia ou tiveram sempre um mau contacto inicial com a mesma. Existe também um outro grupo constituído pelos que têm pavor que os computadores lhes tomem o lugar mas quanto a estes já não existe cura mental possível, tão enraizados estão os preconceitos nos quais acreditam. E por aqui continuamos: de um lado os favoritistas do progresso, da eficácia, da informatização e do outro os do contra que quer queiram quer não só acabam por fomentar a confusão, o atraso, a estagnação.

Mas o objectivo deste texto não é o de falar destes antagonismos absurdos mas sim o de contar a minha experiência na elaboração de um programa de matemática e o de tentar atrair os mais dogmáticos e cépticos (que ainda acreditam que se Deus fosse a favor dos PC's nos tinha dado uma caixa de diskettes ao invés do umbigo) para uma tentativa de melhor compreensão daquele mundo obscuro repleto de diskettes, códigos, programas, mosquitos, bits, carraças e tudo tudo o que lhe impingem para o tornar ainda mais amedrontante.

Para começar a crónica que me propus fazer, penso que é minha obrigação com o leitor atento (depois disto tudo já não deve haver nenhum) apresentar-me convenientemente.

Pois bem, chamo-me Carlos, como puderam observar no início do texto, tenho 16 anos e estudo no 11º ano do curso TPIE da ESEN - Viseu. Desde os 13 anos que estou 'enlodado' (é uma chalaça) nesta salganhada dos computadores e desenvolvi no fim do 1º trimestre escolar um programa a que chamei f(x). Este executa gráficos de equações matemáticas, quer 'afins', 'quadráticas' ou de terceiro grau. Os domínios são variáveis e como tal permite todo o tipo de análise, ou seja, determinar zeros, D', D, injectividade, etcaetera, como se pode observar pelas figuras.

É costume a ideia base da elaboração de um programa deste género advir da tentativa de uma melhor compreensão do sujeito escolar ao qual este será destinado. De facto isso também aconteceu com of(x),apenas foi indirectamente.

Como é sabido, o projecto MINERVA encontra-se 'sediado' em várias escolas de todo o país, incluindo a minha. É objectivo deste projecto colocar os Meios Informáticos no Ensino, Racionalização e o resto da lenga-lenga que forma o édipo do mesmo. Acontece que havia um programa de funções matemáticas a circular pelos professores e cuja cópia era expressamente proibida aos alunos. O facto é que eu o tentei copiar várias vezes mas todas elas redundaram em absoluto fracasso. Até o truque de esperar o prof. sair da sala falhou: ele voltou no meio dos 'DISKCOPY'. Isto sem contar com a vergonha à qual fiquei sujeito todas essas vezes.

Foi esse desprezo, esse, digamos que, egoismo por parte do grupo de Matemática da minha escola que me impulsionou a pegar no Turbo C e começar a experimentar rotinas para gráficos. Esta foi a parte mais chata - o desenvolvimento. De referir que utilizar o TC num PC Olivetti 2DD 31/2'' sem disco e a 8Mhz é uma carga dos trabalhos. Por falar nisso, quem estiver interessado em comprar um PC, estou às ordens.

Retomando o nosso «tête-à-tête», pois já me estava a desviar do assunto, depois de efectuada a investigação faltou implementar, ou seja, pegar nas ideias e rotinas, juntá-las em água morna com as funções do 'C' e deixar marinar durante uma semana. Assim saiu o f(x). Acabado o programa bastou-me espalhá-lo pela escola juntamente com a ficha F(x).doc (que continha um texto muito directo e preciso para com os prof.'s de Matemática) e agora, não sei se por mérito disso, o tal programa de funções proibido é do domínio público. Se não é público, pelo menos não me custou mesmo nada copiá-lo do disco.

Eu, pessoalmente, quando inicio a elaboração de um programa é como que um desafio - serei capaz? vamos a ver -, desafio esse que só fenece depois de dezenas de horas de trabalho, com uma cara de sono horrível e um bocejar recursivo e constante.

Finalizando, já que é quase uma da manhã e estou cheio de sono, gostaria de formular uma crítica (construtiva, espero) ao projecto MINERVA:

Gostávamos de perguntar o porquê do quase nulo intercâmbio de programas entre os núcleos, relativos a em certas escolas existirem programas específicos proibidos que noutras são de domínio público. O porquê também de ter de ser sócio do clube MINERVA e pagar uma quota para utilizar os 'recessos' e lentos PC's a 4.77 Mhz de que dispõem. Quanto a mim não tenho esse problema (e simplesmente não pago nada) mas penso que é política errada visto os mal organizados núcleos serem subsidiados e como tal a priori não necessitarão de fundos adicionais.

Política errada esta que resulta na maior parte das vezes na perca de enormes potencialidadesa que daí poderiam advir.

É necessário repensar, pois, toda a estrutura deste projecto e dos seus intervenientes para que a informática seja acessível e não um bicho de sete cabeças, aumentando deste modo a produtividade e o raciocínio, colocando-nos, se possível, em igualdade com os nossos parceiros comunitários.

 

Para qualquer contacto (em tempo de aulas):
Carlos Alberto Mascarenhas Antunes
Largo Major Monteiro Leite, 21- 2º
3500 Viseu

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