DEPOIMENTO SOBRE A UNIVERSIDADE

João Filipe Queiró
Departamento de Matemática
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

A Cabra, 27 de Janeiro de 2009, p.19



Convida-me a direcção d’A CABRA, na minha condição de membro do Conselho Geral da Universidade, para um depoimento sobre o futuro da Universidade de Coimbra. Aproveito a oportunidade para uma curta exposição da actividade do Conselho desde a sua eleição no passado dia 24 de Novembro.

 

O Conselho Geral da Universidade de Coimbra vem, com passos seguros e com o espírito correcto, cumprindo a primeira fase das suas obrigações.

 

Em 6 de Janeiro foram cooptadas – por unanimidade – as dez personalidades externas, cujo nome e capacidade falam por si. Todas têm experiência de direcção de grandes organizações. Três são doutoradas – mas com profissões não académicas. Oito foram estudantes da Universidade de Coimbra, o que poderá potenciar a sua dedicação aos trabalhos do Conselho. Todas juntas, representam uma boa diversidade de áreas de intervenção, da cultura à ciência e à comunicação, da sociedade à política e à economia.

 

Em 10 de Janeiro foi eleito Presidente do Conselho Geral o Dr. Artur Santos Silva, prestigiada personalidade do nosso país, antigo estudante e docente da Universidade de Coimbra, com experiência de altas responsabilidades nos campos político, económico, social e cultural.

 

O próximo desafio do Conselho será organizar-se de forma a o seu trabalho futuro poder ser eficaz e produtivo, para que o órgão seja uma sede de supervisão e estratégia útil à Universidade. O défice na concepção e avaliação estratégica, na organização e coordenação dos órgãos de governo e na circulação da informação foi recentemente apontado como uma deficiência da Universidade de Coimbra. É responsabilidade do Conselho Geral contribuir para colmatar esse défice. E isso passa também, de forma decisiva, pela sua organização e eficiência internas.

 

Por obrigação estatutária, será em breve promovido um debate aberto e profundo sobre a conveniência ou não de proceder a uma reestruturação dos saberes, com eventual influência na estrutura orgânica da Universidade.

 

Para além disso, a nossa ambição deve ser reforçar a Universidade de Coimbra como centro de saber, cultura e ciência, mas também de organização, responsabilidade, serviço e respeito pelos estudantes que nos procuram.

 

A situação actual não é fácil, num momento em que aos drásticos cortes orçamentais se junta a crise financeira e económica, e em que à conhecida hostilidade ministerial em relação às instituições se junta uma cultura de propaganda, a que a Universidade é naturalmente avessa.

Mas a Universidade de Coimbra revela novos dinamismos em muitos sectores, os cursos vêm conseguindo atrair bons estudantes de variadas proveniências, as unidades de investigação obtiveram classificações elevadas na recente avaliação internacional da investigação científica, colocando a Universidade em boa posição a nível nacional.

Temos uma boa base para melhorar em muitos aspectos. Isso é missão de todos. Numa circunstância envolvente tão difícil, cada estudante, cada funcionário, cada professor e cada investigador têm uma responsabilidade comum: a Universidade de Coimbra são eles.

 

As verdadeiras instituições caracterizam-se pela continuidade e pela assunção da sua cultura pelos seus membros. Mas a força vem-lhes também da capacidade de adaptação e transformação. A Universidade de Coimbra tem uma cultura institucional suficientemente forte para atravessar dificuldades, com diferentes leis e diferentes governos. Mas a Universidade e os seus membros – estudantes, funcionários, docentes e investigadores – não devem fechar os olhos ao mundo que os rodeia e à evolução do contexto em que as questões do ensino superior se colocam. Se não olharmos demasiado para dentro nem nos agarrarmos ao passado, temos condições para construir a universidade de referência que ambicionamos.