SESSÃO DE ABERTURA

 

 

Graciano Neves de Oliveira

Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática

 

 

Exmo. Senhor Ministro da Ciência e Tecnologia

Exmo. Senhor Secretário de Estado do Ensino Superior

Exmo. Senhor Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia

Exmo. Senhor Governador Civil

Exmo. Senhor Presidente do Centro Internacional de Matemática

Colegas:

 

Quero começar com as minhas saudações em meu nome e em nome da Direcção da Sociedade Portuguesa de Matemática.

Conhecemo-nos mutuamente e encontramo-nos com tanta frequência que podem parecer quase artificiais as costumeiras palavras de boas vindas.

Mas hoje estamos reunidos com um objectivo muito especial que não tem lugar com frequência: para debater a investigação matemática em Portugal.

É um tema de grande significado para mim, o programa é sem dúvida aliciante. Contém dois pontos que eu queria salientar:

1. Hoje às 11h30, a pós-graduação em Portugal.

2. Amanhã às 9h, a pós-graduação em Matemática.

Saliento estes pontos porque os considero de grande importância. A pós-graduação é um dos nossos pontos fracos. Justifico. Portugal, enquanto país europeu, tem especificidades muito especiais. Tivemos mudanças muito rápidas recentemente, mudanças que fizemos em 2 ou 3 décadas e que, noutros países, necessitaram de 6 ou 7 e aconteceram muito mais cedo. Não me refiro só às auto-estradas, provavelmente as mais visíveis pelo turista passageiro. Há outras, como a brusca passagem do predomínio do sector primário ao predomínio do terciário; a quase extinção do Portugal agrícola e o fim da diferença abissal entre o Portugal urbano e o que resta do rural.

Há uma que nos interessa especialmente: o muito rápido aumento do número de jovens com acesso ao ensino, em particular ao superior. Em si uma coisa boa, mas tão brusco, que provocou desequilíbrios como era de esperar. Proliferaram os estabelecimentos de ensino superior: universidades públicas, privadas, politécnicos e respectivos pólos. O número de professores também aumentou mas, nem de longe, ao mesmo ritmo. De tal modo que e é uma das especificidades de Portugal temos carência de doutorados, quando nos países industrializados se passa o inverso.

Quer dizer, durante o processo de proliferação não foi possível criar um sistema de pós-graduação, de produção de doutoramentos se preferirem, que acompanhasse o crescimento.

O problema resolveu-se com a reedição do milagre da multiplicação dos pães: muito professor deixou de ser um só, auto-multiplicou-se e passou a ser 2 ou 3 consoante o número de estabelecimentos de ensino superior onde dá aulas, sejam eles universidades públicas, privadas ou politécnicos. E as falhas que ainda assim restaram foram suturadas com mestres e licenciados a fazerem as vezes de doutores.

Esta situação prejudica gravemente a investigação. Se tivermos em conta a burocracia que cresce nas Universidades (quem não é Presidente ou Vice-Presidente de algum dos múltiplos órgãos ou passa horas a preencher impressos ou a fazer relatórios?) se tivermos em conta estas circunstâncias, dizia eu, as horas perdidas para o estudo e concentração são muitas.

Continuamos a recorrer ao método tradicional, de enviar bolseiros para o estrangeiro. O que não é necessariamente um mal. Seria óptimo se ele representasse um intercâmbio, se houvesse uma corrente intensa de sentido inverso. Não havendo corrente inversa, é um sintoma de atraso.

Se tivéssemos doutores em número suficiente, o milagre da multiplicação extinguir-se-ia por desnecessário, a tradicional endogamia universitária seria fortemente abalada, a investigação ganharia e o intercâmbio internacional em pé de igualdade também. Haveria repercussões no ensino pré-universitário mais valiosas e de melhor qualidade do que as obtidas por preocupações pedagógicas exageradas.

Por estas razões eu considero de grande importância o debate que vamos iniciar. Por estas razões, em vez do "delenda Cartago" repetido há séculos por um romano ad nauseam eu tenho repetido indefinidamente: uma política de pós-graduação precisa-se.

Por estas razões sinto-me hoje feliz neste debate e desejo as maiores felicidades a todos os presentes na troca de ideias que vamos iniciar.