O muro egípcio

Fotografias de Keiichi Tahara

Prisões Académicas - Biblioteca Joanina, Palácio dos Grilos
Horário: 14.00-17.30
Sábado/Domingo: 10.00-12.00, 14.00-17.30
Ingresso: 500$00

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[...] "A arqueologia apaixona-me porque é uma outra maneira de fazer reviver traços desaparecidos na escuridão da terra. Creio, como os antigos egícios, que a matéria se enriquece pela luz, e que a luz se sobrepõe na matéria por estratos. [...] O facto de fotografar estátuas antigas permite perpetuar o tempo, conferir uma nova vida. Morrer não é pouco e é nada, e no entanto tenho consciência do caos que fará com que tudo regresse ao nada. Vivemos um curto instante de luz entre dois caos.

[...] E quero ajudar a ver de novo. Tudo existe já, eu quereria acrescentar algo, traduzir o que sinto do passado: a fotografia é o meu utensílio, da mesma forma que outros usam a pintura ou a escultura. [...] Depois do papel, procurei imprimir as minhas fotografias sobre outros suportes. Para mim, a fotografia é um rasto de luz; descobri uma forma de imprimir em blocos de vidro. Num bloco de vidro há sempre um reflexo, até mesmo o espectador se reflecte na imagem. O vidro é a luz e a transparência, seguiram-se-lhe o metal e a pedra. O metal é o reflexo e o vazio como a prata. A pedra é mais profunda. Não reflecte a luz, capta-a, guarda-a. A luz estratifica-se na pedra que conserva a sua energia, a sua memória. Evoca o tempo uma vez que nasceu - sobretudo a pedra calcárea fossilizada - da acumulação milenária da matéria. E, sobre esta, imprimo uma nova marca, que se vai conservar ou ter o mesmo futuro que os frescos que desaparecem no filme de Fellini, "Roma". É também nisso que sinto a utilidade da fotografia, no fazer ver de novo antes do desaparecimento, como o arqueólogo que fotografa e regista cada uma das suas descobertas. [...] Gosto também do contacto, da maleabilidade e da dureza do ouro, do seu peso e evanescência. Gosto da solidão do ouro, que se opõe ao vazio da prata. Associei-o às impressões em pedra consagradas ao Egipto, como raios de sol. Também tenho feito pesquisas com água, interessa-me igualmente a areia, a madeira, o tecido e o betão. As impressões sobre tecido evocam em mim a imagem do sudário de Turim. [...] É sem dúvida a minha educação sintoísta que me faz pensar que fotografar é uma forma de rezar. Para mim, o gesto de unir as mãos em sinal de oração é também o de captar a luz, que nasceu do nada e confere vida. Paradoxalmente penso que o negro é a luz, é neste fundo de obscuridade que tudo começa.
Keiichi Tahara

Cortesia: Galerie Baudoin Lebon


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