O estudo da polarização de emissões de raios X e de raios gama em astrofísica permite obter um parâmetro adicional para a construção de modelos que descrevem os diferentes tipos de fontes de radiação polarizada como por exemplo: explosões de raios gama, pulsares, buracos negros galácticos, erupções solares, núcleos galácticos activos, etc. No entanto, até hoje ainda não foram efectuadas observações no domínio de energias considerado (aproximadamente entre 100 keV e 1 MeV). Com o intuito de explorar esta lacuna é proposto o telescópio CIPHER (Coded Imager and Polarimeter for High Energy Radiaton) cujo projecto envolve a colaboração várias instituições europeias: o Laboratoire PHASE (PHysique et Application des SEmi-conducteurs), CNRS, França o IASF (Istituto di Astrofisica Spaziale e Fisica Cosmica), Itália e o Grupo de Instrumentação Atómica e Nuclear do Departamento de Física da Universidade de Coimbra.

  No âmbito do processo de desenvolvimento deste instrumento, foi concebido um programa que simula o funcionamento dos processos de detecção, permitindo realizar um estudo do potencial polarimétrico do plano de detecção de CdTe. Este estudo mostrou que através de uma matriz de CdTe de configuração planar são possíveis de obter prestações que colocam este instrumento entre as melhores soluções para polarimetria relativamente a todos os projectos concorrentes propostos até à data. Nomeadamente, factores de modulação polarimétrica Q superiores a 0,5 e uma polarização mínima detectável inferior a 20 % para 103 s (~ 16 minutos) de tempo de observação e inferior a 5 % para 104 s (~ 3 horas), tempos estes que correspondem a tempos de observação típicos de missões efectuadas a bordo de balões estratosféricos (~ 40 km).

  Este estudo foi verificado experimentalmente através de um protótipo preliminar baseado numa matriz de 4x4 píxeis de CdTe no acelerador de sincrotrão do ESRF (European Radiation Synchrotron Facility), Grenoble, França. No domínio da polarimetria de raios X e gama esta experiência foi inédita, visto que pela primeira vez foi testado um polarímetro através de um feixe produzido por um acelerador de sincrotrão que permite a produção de feixes de radiação 100 % polarizados.