NONIUS
nš11 ISSN 0870-7669 Abril de 1988
Folha Informativa do Projecto "Computação no Ensino da Matemática"

À redacção do "nonius":

 A propósito da simpática crítica que o "nonius" fez ao meu livro "O Computador na Aula de Matemática", gostaria de aproveitar a oportunidade para tentar esclarecer alguns pontos.

Em primeiro lugar, se do livro pode resultar a ideia de que faço depender do computador a renovação do ensino da Matemática, quereria dizer desde já que nada está mais afastado do que realmente penso sobre este assnto. O autor da crítica diz que "a renovação do ensino far-se-á também (sobretudo ?) devido a um certo número de outras questões...". Estou convicto que sim, e até tiraria o ponto de interrogação da palavra "sobretudo". É o que pretendi exprimir com as palavras, não suficientemente fortes, reconheço agora, "é evidente que o computador, só por si, não resolve nada". O entusiasmo com que falo das possibilidades educativas do computador pode ser realmente enganador: o computador, embora apresente características novas e privilegiadas para a Educação Matemática, não deixa por isso de ser apenas um instrumento. Instrumento ao serviço de determinados objectivos, orientações e métodos pedagógicos, de que depende, isso sim, a renovação do ensino da Matemática.

Quanto à outra observação, que se refere ao meu "demasiado optimismo" , não consigo segui-la tão bem. Se cada escola portuguesa fosse equipada com os 16 computadores das escolas secundárias inglesas, o resultado seria certamente ainda mais desgraçado. A esse respeito, nenhum optimismo. Por isso tenho acompanhado com a maior apreensão a ênfase que julgo existir no Projecto Minerva em relação ao equipamento - hardware e software - em detrimento dos aspectos educativos. A anunciada, mas felizmente adiada, fase operacional ou de implementação, com a distribuição em massa de computadores às escolas, faz-me tremer, pois para disparates o dinheiro acaba sempre por aparecer. Portanto, o maior pessimismo...

Numa palavra: aí temos um instrumento admirável para a Educação Matemática - o computador; de nada servirá se não repensarmos os objectivos do ensino da Matemática e se não alterarmos profundamente o que se passa na aula de Matemática, muito especialmente se os alunos não passarem a ser agentes activos no seu processo de aprendizagem da Matemática.

(Nota: e é por esta última razão que a tal perspectiva do computador como "retroprojector electrónico" não me consegue entusiasmar...)

Lisboa,20 de Março de 1988
Eduardo Veloso

 

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